terça-feira, maio 03, 2005
REGRESSO DE FÉRIAS COM PESSIMISMO A TRES NIVEIS
Isto costuma acontecer com frequência.
No regresso de férias, somos às vezes invadidos por um estado de depressão e abatimento.
De volta à terra, bem gostaria de me sentir optimista e confiante no futuro. Mas os sinais que recebi, durante o período de férias, e agora no retorno ao quotidiano local, são de molde a deixar-me algo inquieto, mais do que era habitual em anteriores circunstâncias semelhantes.
1.
Viajei durante uma semana pela antiga Alemanha de Leste. Fazia exactamente 40 anos que, vindo de Berlim Ocidental, e atravessando um posto fronteiriço de fazer terror, visitara Berlim Leste durante umas 8 horas. O suficiente para ter começado então no meu espírito o desmoronamento das ilusões e equívocos alimentados durante a vida universitária dos anos 60.
Berlim Leste, pelo menos nas áreas mais chegadas a Ocidente, está irreconhecível face ao que era antes da reunificação. Nova Chancelaria, novos edifícios do Governo, novos ministérios, novos blocos anexos ao velho Reichstag. Em fase quase terminal de construção está uma nova, moderna e gigantesca estação de caminho de ferro, a escassas centenas de metros da área dos edificios governamentais. Por grande parte da capital alemã, estende-se um autêntico arraial de estaleiros de construção civil. O mesmo se passa em Leipzig.
A dívida per capita da população berlinense atinge o valor de 18100 Euros ( 3600 contos!...) , inimaginável para uma escala portuguesa.
Não obstante todo o esforço desenvolvido de aplicação de recursos, a economia alemã não descola de um estado de quase estagnação, nem pela via do investimento, nem pela via do consumo privado.
E o desemprego ronda os 10,5 %.
Neste contexto, não custa portanto a compreender como é que a Alemanha não cumpre nem porventura cumprirá tão cedo com o critério do limite do deficit de 3% do seu PIB anual.
Como não se vê, tão pouco, como irá a Alemanha continuar a contribuir para os fundos da EU e do IV Quadro Comunitário de Apoio, à escala do que já fez no passado. Ou seja, não se vê como haverá dinheiro europeu que nos possa continuar a valer.
Tanto mais que, ali mesmo à beira da Alemanha, há uma meia dúzia de novos membros da EU, igualmente carecidos e sedentos de ajudas, como Portugal, mas com populações de elevado nível educativo e profissional, todavia menos exigentes no plano remuneracional, e por isso capazes de atraírem os investidores e os consumidores alemães.
De França vêm também maus prenúncios. A tendência para o NÃO no referendo, permanece.
Assusta ver na imprensa internacional fotografias de comícios em favor do NÃO, em que Jean Marie Le Penn arenga a imensas multidões. Ninguém sabe muito bem o que acontecerá à União Europeia (e talvez até ao Euro, a mais longo prazo...) se o NÃO vencer em França.
Isto costuma acontecer com frequência.
No regresso de férias, somos às vezes invadidos por um estado de depressão e abatimento.
De volta à terra, bem gostaria de me sentir optimista e confiante no futuro. Mas os sinais que recebi, durante o período de férias, e agora no retorno ao quotidiano local, são de molde a deixar-me algo inquieto, mais do que era habitual em anteriores circunstâncias semelhantes.
1.
Viajei durante uma semana pela antiga Alemanha de Leste. Fazia exactamente 40 anos que, vindo de Berlim Ocidental, e atravessando um posto fronteiriço de fazer terror, visitara Berlim Leste durante umas 8 horas. O suficiente para ter começado então no meu espírito o desmoronamento das ilusões e equívocos alimentados durante a vida universitária dos anos 60.
Berlim Leste, pelo menos nas áreas mais chegadas a Ocidente, está irreconhecível face ao que era antes da reunificação. Nova Chancelaria, novos edifícios do Governo, novos ministérios, novos blocos anexos ao velho Reichstag. Em fase quase terminal de construção está uma nova, moderna e gigantesca estação de caminho de ferro, a escassas centenas de metros da área dos edificios governamentais. Por grande parte da capital alemã, estende-se um autêntico arraial de estaleiros de construção civil. O mesmo se passa em Leipzig.
A dívida per capita da população berlinense atinge o valor de 18100 Euros ( 3600 contos!...) , inimaginável para uma escala portuguesa.
Não obstante todo o esforço desenvolvido de aplicação de recursos, a economia alemã não descola de um estado de quase estagnação, nem pela via do investimento, nem pela via do consumo privado.
E o desemprego ronda os 10,5 %.
Neste contexto, não custa portanto a compreender como é que a Alemanha não cumpre nem porventura cumprirá tão cedo com o critério do limite do deficit de 3% do seu PIB anual.
Como não se vê, tão pouco, como irá a Alemanha continuar a contribuir para os fundos da EU e do IV Quadro Comunitário de Apoio, à escala do que já fez no passado. Ou seja, não se vê como haverá dinheiro europeu que nos possa continuar a valer.
Tanto mais que, ali mesmo à beira da Alemanha, há uma meia dúzia de novos membros da EU, igualmente carecidos e sedentos de ajudas, como Portugal, mas com populações de elevado nível educativo e profissional, todavia menos exigentes no plano remuneracional, e por isso capazes de atraírem os investidores e os consumidores alemães.
De França vêm também maus prenúncios. A tendência para o NÃO no referendo, permanece.
Assusta ver na imprensa internacional fotografias de comícios em favor do NÃO, em que Jean Marie Le Penn arenga a imensas multidões. Ninguém sabe muito bem o que acontecerá à União Europeia (e talvez até ao Euro, a mais longo prazo...) se o NÃO vencer em França.
Espera-se um milagre.
2.
A nível nacional, os sinais também não são de optimismo.
A seca continua e agrava-se mesmo.
Decorridos dois meses do novo governo de José Sócrates, ainda não foi anunciada nenhuma medida impopular. Ninguém se iluda. Cedo ou tarde, elas terão de aparecer. Quanto mais tarde for, mais vai doer.
Jorge Coelho parece surgir e impor-se de novo no seu insinuante papel de comissário político encarregado de gerir o contentamento e a felicidade do aparelho partidário e da nomenklatura partidária.
Aqui e além brotam alguns indícios. E de novo se começam a vislumbrar as sombras e os claros-escuros do jogo de cumplicidades, afinidades e influências da “rede de Macau “ .
3.
Finalmente, a nível local aqui da paróquia, razões de pessimismo e de desalento vim encontrar também na forma como se desenrolou e terminou o processo de designação do candidato do PS à Câmara Municipal da Figueira da Foz.
Sem que nada de conhecido o justificasse, os órgãos nacionais do PS em geral , e Jorge Coelho em particular, decidiram avocar o direito da escolha do candidato, à revelia do que parecia ser a vontade dos órgãos locais, ou pelo menos a vontade repetidamente expressa do seu Presidente.
E bem se pode argumentar que não foi nada disso, que foi o órgão concelhio quem, não desejando decidir, entregou a decisão final nas mãos de Jorge Coelho.
Para a opinião pública ( logo, para o eleitorado também...) , o que se passou foi que foi Jorge Coelho a decidir, e não as estruturas locais.
A meu ver, está assim criado um grave precedente no seio do PS, e está seriamente afectada a sua imagem aos olhos do eleitorado local.
A interferência e a avocação que os órgãos nacionais do PS não quiseram ou não tiveram a coragem de fazer em 2002 com a candidatura de Fátima Felgueiras , no caso da Câmara Municipal de Felgueiras , vieram agora fazê-lo , sem qualquer justificação, na Figueira da Foz.
Veremos pois que efeito de desmobilização tal atitude irá provocar nas estruturas locais do PS.
E que efeito corrosivo terá na sua imagem e na sua credibilidade junto do eleitorado local.
Pior sinal ainda, será a circunstância de, em obediência a um mínimo de decoro e de dignidade, nem a Comissão Concelhia, nem o seu Presidente, terem esboçado, de forma pública conhecida, o mais leve sinal de discordância ou de protesto.
No exercício da Política com P grande, perante a desconsideração e a desautorização feitas por Jorge Coelho, pelos orgãos nacionais e distritais do PS, impor-se-ia um gesto de demissão.
À capacidade de engolir sapos ou elefantes vivos, para além de um certo limite, não se chama obediência militante ou disciplina partidária.
Chama-se outra coisa.
2.
A nível nacional, os sinais também não são de optimismo.
A seca continua e agrava-se mesmo.
Decorridos dois meses do novo governo de José Sócrates, ainda não foi anunciada nenhuma medida impopular. Ninguém se iluda. Cedo ou tarde, elas terão de aparecer. Quanto mais tarde for, mais vai doer.
Jorge Coelho parece surgir e impor-se de novo no seu insinuante papel de comissário político encarregado de gerir o contentamento e a felicidade do aparelho partidário e da nomenklatura partidária.
Aqui e além brotam alguns indícios. E de novo se começam a vislumbrar as sombras e os claros-escuros do jogo de cumplicidades, afinidades e influências da “rede de Macau “ .
3.
Finalmente, a nível local aqui da paróquia, razões de pessimismo e de desalento vim encontrar também na forma como se desenrolou e terminou o processo de designação do candidato do PS à Câmara Municipal da Figueira da Foz.
Sem que nada de conhecido o justificasse, os órgãos nacionais do PS em geral , e Jorge Coelho em particular, decidiram avocar o direito da escolha do candidato, à revelia do que parecia ser a vontade dos órgãos locais, ou pelo menos a vontade repetidamente expressa do seu Presidente.
E bem se pode argumentar que não foi nada disso, que foi o órgão concelhio quem, não desejando decidir, entregou a decisão final nas mãos de Jorge Coelho.
Para a opinião pública ( logo, para o eleitorado também...) , o que se passou foi que foi Jorge Coelho a decidir, e não as estruturas locais.
A meu ver, está assim criado um grave precedente no seio do PS, e está seriamente afectada a sua imagem aos olhos do eleitorado local.
A interferência e a avocação que os órgãos nacionais do PS não quiseram ou não tiveram a coragem de fazer em 2002 com a candidatura de Fátima Felgueiras , no caso da Câmara Municipal de Felgueiras , vieram agora fazê-lo , sem qualquer justificação, na Figueira da Foz.
Veremos pois que efeito de desmobilização tal atitude irá provocar nas estruturas locais do PS.
E que efeito corrosivo terá na sua imagem e na sua credibilidade junto do eleitorado local.
Pior sinal ainda, será a circunstância de, em obediência a um mínimo de decoro e de dignidade, nem a Comissão Concelhia, nem o seu Presidente, terem esboçado, de forma pública conhecida, o mais leve sinal de discordância ou de protesto.
No exercício da Política com P grande, perante a desconsideração e a desautorização feitas por Jorge Coelho, pelos orgãos nacionais e distritais do PS, impor-se-ia um gesto de demissão.
À capacidade de engolir sapos ou elefantes vivos, para além de um certo limite, não se chama obediência militante ou disciplina partidária.
Chama-se outra coisa.