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domingo, abril 03, 2005

QUE ESTRANHA FORÇA...

Durante muitos anos guardei a revista. Procurei encontrá-la agora no meio das minhas papeladas e não a encontrei . Quando a comprei e li, a sua capa causou um especial e fortíssimo impacto no meu espírito.
A capa era do Nouvel Observateur , uma conhecida e muito lida revista da esquerda francesa, de um mês de um ano da primeira metade dos anos oitenta, aí por 1982 ou 1983, nos primeiros tempos da agitação provocada pelo sindicato Solidariedade .
Mostrava uma grande fotografia tirada nos grandes estaleiros navais de Gdansk, na Polónia, então sob o regime totalitário imposto pelo Partido Comunista.
O primeiro plano mostrava um grande arco em ferro, servindo de portaria dos estaleiros, com palavras nas quais se podia perceber o seu nome : Estaleiros Lenine .
Presas a esse arco, uma grande foto do Papa João Paulo II , e uma imagem da virgem negra.
Para dentro do arco-portaria, viam-se milhares de operários polacos, de rostos endurecidos pelo trabalho e de fatos macaco azuis, ajoelhados em oração.
Sob o impacto forte da impressiva capa, imaginei que Lenine, se visse tal imagem, daria voltas e voltas no túmulo onde jazia ( e ainda jaze, embalsamado) junto às paredes do Kremlin.
Que estranha força era aquela, que fazia tantos milhares de membros da classe operária, em cujo nome o Partido Comunista polaco dizia exercer a ditadura do proletariado, ajoelharem-se com devoção perante os símbolos daquilo que Marx designara por “ópio do povo” ?
Como era possível, depois de várias décadas de intensa doutrinação marxista-leninista nas escolas e nas fábricas polacas, de perseguição religiosa, de permanente criação de dificuldades à Igreja Católica Polaca, que esta conseguisse manter o poder espiritual que a imagem demonstrava, e o poder “factico” que ela realmente detinha na vida social ?
Passe a presunção, mas na altura tive uma indefinida intuição de que algumas viragens históricas estavam para acontecer.
Ao ver agora as imagens e as reportagens sobre a morte de João Paulo II, transmitidas da Praça de S. Pedro em Roma, até à exaustão e ao cansaço, lembrei-me daquele meu espanto de há 20 anos, e tornei a interrogar-me : que estranha força é aquela ?

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