segunda-feira, março 28, 2005
SOBRE O PROVINCIANISMO PORTUGUÊS
(...) Pelas características indicadas como sendo as do provinciano, imediatamente se verifica que a mentalidade dele tem uma semelhança absoluta com a da criança.
A atitude da criança para com as novidades do progresso, é a da criança para com os brinquedos – ama-os por novos e por artificiais. É a criança, como o provinciano, um espírito desperto mas incompletamente desperto.
(...) Pelas características indicadas como sendo as do provinciano, imediatamente se verifica que a mentalidade dele tem uma semelhança absoluta com a da criança.
A atitude da criança para com as novidades do progresso, é a da criança para com os brinquedos – ama-os por novos e por artificiais. É a criança, como o provinciano, um espírito desperto mas incompletamente desperto.
Ora o que distingue a mentalidade da criança é a incapacidade de concentração voluntária, o espírito de imitação e a ausência de espírito crítico. São estes, portanto, os característicos que iremos encontrar no provinciano; são eles que o distinguirão do campónio, por um lado, do citadino, por outro.
No campónio, semelhante ao animal, a concentração voluntária existe, mas instintiva; a imitação existe, mas superficial, e não, como na criança e no provinciano, vinda do fundo da alma; o espírito crítico não existe, mas é substituido por uma intuição bruta das realidades.
No citadino, semelhante ao homem formado, existem duas realidades que na criança e no provinciano são negativas, e não há imitação, mas aproveitamento dos exemplos alheios.
(...)
(Fernando Pessoa - Textos políticos, Colectânea recolhida por António Quadros)