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quarta-feira, janeiro 19, 2005

RECICLAGEM E ENERGIA

O Ministro Nobre Guedes veio ontem perorar sobre tratamento de resíduos sólidos .
Categórico, declarou-se totalmente contra a co-incineração de resíduos industriais perigosos ( RIP’s) e a queima de resíduos industriais banais (RIB’s) ou de resíduos sólidos urbanos (RSU’s) .
Reclama-se fervoroso admirador das soluções de reciclagem . Fica-lhe muito bem .
Nobre Guedes é homem de leis . Ilustre , ao que dizem. Apesar de ter andado pelo mundo dos negócios do tratamento dos resíduos sólidos, antes de ser ministro, deve porém desconhecer, em absoluto, o 2º princípio da termodinâmica, o seu significado físico e, vamos lá , metafísico.
Tal como acontece, de resto, com a generalidade dos ambientalistas amadores portugueses, tribo que costuma albergar sociólogos, poetas, jornalistas , homens de letras, botânicos e gente do estilo.
Ouve-os muito e, no seu charme blasé , é sensível às suas adulações . Adulador também, chama “amigos do ambiente “ a esses “ambientalistas” . Por isso emprenha facilmente pelos ouvidos em matérias ambientais.

Em linguagem simples, pode dizer-se que decorre do 2º princípio da termodinâmica o seguinte.
Quando há um sistema dentro do qual acontecem processos de transformação , com realização de trabalho ( no sentido físico do termo) , a sua entropia , medida da escala da sua desordem interna , é uma função crescente com o tempo .
A ordem interna só poderá ser reposta, ou melhor, a caminhada para a desordem só pode ser contrariada, injectando energia nesse sistema. Uma pilha de resíduos sólidos urbanos, indiferenciadamente misturados, é um todo em desordem. Separar as suas fracções será repor um pouco de ordem, o que nunca será feito sem gastar energia , mais não seja energia braçal e humana para fazer a separação . Ou energia eléctrica para mover os equipamentos de transporte, os tapetes, os rolos, os separadores, os hidrociclones, as prensas , de uma instalação de separação e tratamento de lixos.
O processo de separação e reciclagem nunca é portanto de borla. Nem financeiramente, medida em Euros ; nem ambientalmente, medida em unidades de impacte ambiental.
Isto é : a reciclagem de resíduos, envolvendo obviamente a realização de trabalho , é sempre consumidora de energia . Tanto mais quanto maior o trabalho realizado nos processos de separação das fracções dos resíduos sólidos.
Um balanço ambiental, de custo – benefício, entre duas soluções alternativas para o tratamento ( ou valorização , como se queira) de resíduos sólidos , nem sempre resulta favorável à solução da reciclagem . Pode, pelo contrário, levar à conclusão de que incinerar será , do ponto de vista meramente ambiental , a melhor solução .

Vejamos um exemplo simples, muito embora construído num cenário limite.
Numa grande cidade , tem lugar uma recolha selectiva de mil toneladas por dia de papel .
A sua utilização como combustível, ali nessa mesma cidade, para produção de energia, poderá muito bem ser ambientalmente preferível à alternativa da sua reciclagem, se esta apenas puder ter lugar, em local distante mil a 2 mil quilómetros . Para onde esse papel teria de ser transportado, gastando energia, consumindo combustíveis fosseis, e consequentemente aumentando as emissões gasosas, nomeadamente de gases com efeito estufa.

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