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quarta-feira, agosto 25, 2004


A GRANDEZA DA FRANÇA...

A minha geração ( que termo mais estranho...) foi muito influenciada pela cultura francesa .
Esta impregnou também a minha formação cultural durante a juventude e a vida universitária .
Pelos anos 50 e 60 , estudava-se francês no Liceu , durante 5 anos . Só 3 anos eram dedicados à aprendizagem do inglês .
Uma grande parte da História aprendida no 5º ano do Liceu era dedicada à Revolução francesa . Estranhamente , pouca atenção era dedicada à Revolução americana , que a antecedeu e que nunca retrocedeu para algo que se pudesse parecer ao Império de Napoleão ou à Restauração da Sagrada Aliança .
Li , algumas vezes nos originais , muitas das grandes obras da literatura francesa dos mais consagrados autores dos anos 30 a 50 , tais como Anatole France , Andre Gide , Martin du Gard , Romain Rolland , Roger Vaillant .
Sempre que podia , comprava e lia o Le Monde , o L’Express , o Nouvel Observateur , os Cahiers du Cinema ou o Témoignage Chrétian . Nem sempre o podia fazer , pois havia algumas edições que mal chegavam a Portugal eram logo apreendidas pela polícia política .
Na música , ouvia Greco, Brel , Piaf , Aznavour , Léo Ferré . A rádio passava por vezes a canção de Gilbert Bécaud dedicada a Natalie , uma guia de Moscovo :

La place rouge était vide
La neige faisait un tapis....


Ia a Paris comprar livros na Maspero , junto de Saint Michel , que depois escondia no fundo da mala , para não serem descobertos em eventual busca pela Alfândega em Vilar Formoso .
Era a Paris que ia visitar amigos levados na emigração clandestina , ou exilados fugidos á polícia política .

Hoje , volvidos mais de 30 anos , abomino a cultura francesa , no sentido que a designação tem de “ perfil comportamental de um colectivo” , de “forma de estar no mundo “ ou , se se quiser , de “french way of life “ . No que ela contem de arrogância , de hipocrisia , de falsidade e de ridícula prosápia .
Dois ou três franceses/francesas são em geral pessoas simpáticas e agradáveis .
Um conjunto de mais de uma dúzia cozinham um caldo cultural que me causa enjoo e crise de urticária
Será da idade, dirão alguns... Ou será o resultado de um “ aburguesamento capitalista” , dirão alguns neófitos de um esquerdismo mais infantil...Pois seja .

Aquele “ flash back” e estas reflexões vieram-me à cabeça a propósito do editorial do PUBLICO de anteontem , sobre um livreco publicado recentemente em França e chamado “ Bonjour paresse” ( “Bom dia preguiça “) .
Depois de comentar o livro , o editorialista termina :

Claro que o sucesso do livrinho mostra a atracção de muitos franceses pela preguiça e o horror que lhes causa a "ética do trabalho", uma ideia que abominam e logo catalogam como anglo-saxónica. Só lhes falta perceber é que é também por isso que os discursos sobre "la grandeur de la France" soam cada vez menos reais e mais ridículos
.

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