<$BlogRSDUrl$>

terça-feira, janeiro 27, 2004

A morte em directo

Falo por mim . Penso ter sido a primeira vez que assisti à morte em directo pela televisão .
Como eu, porventura muitas centenas de milhares de portugueses .
Em séries e filmes , na televisão como no cinema , assisti a muitas mortes de ficção .
Histórias de cow-boys , de piratas , de guerra , nas quais , geralmente , a morte é filmada como acontecimento simples, indolor , asséptico .
Um homem é atingido por uma seta , uma espada, ou uma bala , cai , e não se move mais.
Não há brotar de golfadas de sangue , nem estertor , nem agonia .
Vemos, sabemos que é a fingir, e às vezes até nos rimos.
Desta vez, não. Vimos o corpo tombar , desamparado . A cabeça , sem controlo, bateu no relvado como se fosse uma bola .
Logo sentimos , através do desespero dos presentes , testemunhas dos olhos abertos e vidrados do jovem futebolista , que não era ficção . Era mesmo a sério , a morte em directo pela televisão .
É difícil alguém ficar indiferente à autenticidade das imagens . A morte real , não fictícia , mexe com qualquer um .
Por isso se explicará , em grande parte , a enorme comoção que alastrou por todo o país .

Haverá mais dois importantes elementos explicativos complementares .
O primeiro é o do sorriso de Feher , escassos instantes antes de se estatelar no relvado, praticamente morto. Que é isto ? Sorri-se daquela maneira ,agora , e 5 ou 6 segundos depois podemos cair mortos ?
Então a morte pode chegar assim? Somos assim tão frágeis ? Mostradas as imagens quase ao vivo, em directo, tal demonstração não pode deixar de angustiar e de agitar emocionalmente o interior de qualquer espectador.

O segundo é o imenso poder mobilizador do futebol, com as paixões que desperta e desenvolve , actualmente o maior espectáculo do mundo .
E a morte em directo foi também o espectáculo dentro do espectáculo .

This page is powered by Blogger. Isn't yours?