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domingo, outubro 12, 2003

As JOTAS e o carreirismo político

A nova srª Ministra da Ciência e do Ensino Superior tem boa pinta...
Ainda não deu nenhuma entrevista , ainda não tomou nenhuma decisão politicamente relevante ( a não ser , e bem , que a política da reforma das Universidades é para prosseguir) , ainda não fez qualquer intervenção no Parlamento .
Será cedo portanto para se fazer um juízo sobre a sua competência e a sua capacidade de realização política .
Sabe-se porém que fez um curso brilhante de Engenharia no IST , que fez um doutoramento , que tem experiência de docência numa Universidade , que tem experiência profissional num departamento da administração pública ligada à matéria do ministério pelo qual passa a ser responsável .
São bons augúrios . Parece , em suma , ter pelo menos currículo académico e profissional para o lugar .
Já o mesmo se não poderá dizer quanto ao seu Secretário de Estado do Ensino Superior , Moreira da Silva .
Com 32 anos , o seu percurso e currículo são unicamente de natureza
política .
Militante e dirigente da JSD , completou o curso de Engenharia Electrotécnica pela Universidade do Porto ( não sei se com boa classificação ) e ingressou de imediato numa carreira política . Foi logo eleito deputado à Assembleia da República , imagino que para cumprir a quota de que a JSD detem como privilégio. Transitou depois para o Parlamento Europeu ( talvez para cumprir quota semelhante...) , de onde foi pescado para o cargo de Secretário de Estado.
Nunca exerceu qualquer actividade profissional , nunca exerceu docência , nunca levou a cabo nenhum trabalho científico.
Não deverá saber o que é comandar pessoas , o que é gerir verbas e controlar custos , o que é mudar um motor eléctrico ou trabalhar numa sala de quadros eléctricos , o que é o universo de uma fábrica, de uma oficina , ou de um departamento da administração pública .
Nada disto . Até ao momento, só fez “política” . Não deverá saber fazer mais nada .
Se um dia a actividade política lhe corre mal , e de repente se vir despojado de qualquer cargo daquela natureza ( o que é sempre provável , dadas as contingências da democracia , onde há alternativa do exercício do poder) , não terá nenhuma actividade profissional , nenhuma organização , nenhuma empresa para a qual se possa retirar , e através da qual se possa aguentar e ganhar a vida . Depende da política para assegurar o seu ganha pão e sobreviver .
Sofrendo de uma tal político-dependência , poderá por isso vir a ser forçado a todas as concessões , a todas as cambalhotas ,a todas as sujeições , que uma qualquer dependência sempre provocam .
Estará destinado a tornar-se um compulsivo candidato a boy .

Estamos diante de um exemplo do efeito perverso das chamadas JOTAS partidárias .
Deveriam ser estruturas e espaços de aprendizagem e iniciação cívica dos jovens , desenvolvendo nestes um desejável interesse pela nobre actividade que deveria ser a política .
Acabam transformadas em verdadeiros portais do mais desprezível carreirismo .

As consequências do sucesso deste carreirismo na qualidade da vida pública e política , nacional, regional ou local , são terrivelmente nefastas .
A começar pela má fama e imagem que faz recair sobre o próprio conceito de Política , passando pela crescente propensão de se irem mediocratizando os seus actores , e terminando pela incompetência com que vão desempenhando , o exercício da actividade política, primeiro , e a inevitável actividade profissional , enquanto boy , onde mais tarde irá cair de paraquedas , num qualquer instituto ou empresa pública .

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