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terça-feira, setembro 23, 2003

A deriva populista...
No último fim de semana , o Dr. Pereira Coelho desdobrou-se em declarações na defesa do povo . Cito a imprensa regional.
Na reunião da Câmara Municipal , e na qualidade de seu Vice-Presidente , afirmou que o bom povo da Figueira não tem uma elite condizente com ele . E logo a seguir , que ”o mal do povo é que participa muito pouco , exige muito pouco e verga-se demais perante os poderosos da cidade .
Mais adiante, acrescentou que servir o povo da Figueira não é servir os interesses poderosos da cidade .
No sábado , já na qualidade de mero cidadão , e no almoço em sua homenagem , voltaria a afirmar que ainda há muitos interesses instalados e o povo tem de dizer não , insistindo depois que o povo tem de dizer que já chega , que já mandaram demais .

O populismo caracteriza-se , além de outras coisas , por uma prática política ,e
pode ser indiciado por um modelo de discurso político em que o uso da palavra povo é intensiva e insistente .

A deriva populista é uma grave enfermidade que pode infectar as democracias , quando estas se tornam vulneráveis , por efeito de um desencanto relativamente à acção política dos partidos , ou devido a uma crescente desconfiança para com parte ou a totalidade da classe política .
O perigo do populismo não pende somente sobre paises da América Latina , como os casos de Perón e Menem na Argentina , de Color de Melo no Brasil ou de Hugo Chavez na Venezuela .
Pode mesmo afectar democracias tão consolidadas como a Holanda ( veja-se o caso do sucesso obtido pelo político holandês assassinado aqui há 2 anos , de que agora não me ocorre o nome ) , a Bélgica flamenga , a Itália de Berlusconi , a Áustria de Haider , ou a França dos anos 50 , com o fenómeno do poujadismo .
Felizmente que na maioria das democracias episodicamente atingidas , o populismo pode ser combatido e corrigido com recurso a mecanismos de correcção naturais , próprios das democracias.

O Dr. Santana Lopes é reconhecido , fora e dentro do PSD , como tendo uma propensão para o populismo . Disso será porventura indicação um pequeno e singelo pormenor : a ênfase quase obsessiva com que teima em dizer PPD/PSD , e não simplesmente PSD , como toda a gente diz.

Ser popular não significa necessariamente ser populista . Nem um partido popular é necessariamente populista .
Todavia , já o Dr. Paulo Portas tem uma linguagem que poderá configurar uma propensão para o populismo .
Tem um verbo escorreito , fácil , incisivo e eficaz .
Está incrivelmente à vontade , como peixe na água , quando , despido o blazer e retirada a camisa às riscas azuis , visita os mercados , acompanha pescadores a alta madrugada , finge estar a vindimar , abraça velhinhas e beija criancinhas .
Sabe puxar , e puxa com muita freqüência , um discurso sedutor para os reformados , para os ex-combatentes , ou para os desempregados ( leia-se também descamisados...) .
Como o fez no último congresso do Partido Popular , sabe agitar a imigração como bode expiatório para explicar a situação daqueles .

Em nota de rodapé , deverá registar-se o facto de que o Dr. Pereira Coelho parece ser o dirigente de topo do PSD normalmente de serviço e destacado ( noblesse oblige”...) quando , no plano das relações institucionais entre este partido e o PP , se torna necessário dar uma satisfação de presença , ou um gesto de solidariedade ao partido parceiro da coligação .
Esteve presente , por exemplo, como representante da direcção do PSD , naquele extravagante comício de desagravo ao Dr. Paulo Portas , promovido pelo PP e realizado no Largo do Caldas .
Tornou a estar presente , também em representação do PSD , no encerramento do último Congresso do Partido liderado pelo Dr. Paulo Portas .
Será tudo isto mera casualidade ou coincidência ? Ou terá, pelo contrário, algum significado político ?

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