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quarta-feira, janeiro 05, 2011

A ANGÚSTIA DO CIDADÃO ANTES DA ELEIÇÃO

Terminadas as festas, iniciado um novo ano, regresso a casa e ao dia-a-dia com uma crescente sensação de angústia. Esta será uma palavra demasiado doentia. Substituo-a por desassossego. Decido medir bem as palavras.
Talvez fosse melhor nada mais dizer, terminar aqui este blogue, antigo já de mais de 7 anos. Ou então, passar a divagar a escrita sobre literatura, artes e espectáculos, turismo ou mesmo futebol.
Por um lado, acho que não devo acrescentar mais ansiedade pessoal à crescente ansiedade colectiva. Mas, por outro, também reconheço que uma atitude de não dar testemunho, com refúgio no prudente silêncio ou na simples reflexão pessoal, não cumpre o que, em minha consciência, considero ser o meu dever de cidadão.
Ouvindo e lendo os media, em particular os fóruns de opinião que se multiplicam pelas rádios e televisões, pressente-se que os cidadãos se estão dando conta da verdadeira escala atingida pela gravidade da situação económica e social.
Como se tal não bastasse, o debate eleitoral ganhou uma inesperada grande crispação, vertida sobre a ameaça de um lamaçal contaminado pelo caso SLN / BPN.

Cavaco Silva terá dado um verdadeiro tiro no pé ao fazer as declarações produzidas sobre o desempenho da gestão actual do BPN, sob tutela da CGD. Trouxe o tema para a ribalta da querela política na campanha eleitoral. Não creio que tenha sido uma estratégia sensata, se é que tal declaração foi antecipadamente bem reflectida, o que até nem parece.

Enquanto eleitor, nada tenho a ver sobre o que se passou entre o cidadão X e a empresa SLN, quando o primeiro, tendo comprado por 105, acções da segunda, as vendeu depois por 240, à mesma sociedade, passados pouco mais de 2 anos. Como contribuinte, apenas espero e exijo que o cidadão X tenha cumprido todas as suas obrigações fiscais, nomeadamente o pagamento do imposto de mais valias, decorrentes daquela transacção. A qual, repito, apenas diz respeito às duas partes contratantes. Poderia, quando muito, achar estranha a sua escala de “negócio da china” para a parte vendedora e, por isso mesmo, ficar um pouco a coçar o nariz como manifestação interior de alguma desconfiança.
Mas enquanto cidadão eleitor, já tenho de me preocupar, e muito, se o cidadão X, atrás citado em abstracto, for candidato a uma eleição para Presidente da República. Sobretudo se, como candidato, e procurando lavar as mãos sobre a decisão, se pronunciar em tom crítico e agorrante (em jeito de prognóstico depois do jogo) sobre a intervenção do Estado num banco detido pela dita SLN, banco que haja sido fraudulenta e criminosamente objecto de uma gestão danosa por parte dum seu ex-colaborador e ex-amigo, e da que resultou um enorme prejuízo financeiro para o Estado português. Que é como quem diz, também para mim, eleitor e contribuinte.
Não é por isso politicamente legítimo que Cavaco Silva continue a negar-se a dar transparentes explicações sobre e como aquela transacção decorreu. Nem a simplesmente declarar que o assunto já foi objecto de explicações que, pela minha parte, não conheço. Nem a remeter para o seu site quem lhe faz perguntas incómodas sobre o assunto. Nem a simplesmente declarar que tudo isso está integrado numa campanha suja de pessoas desonestas.

E daqui emerge no meu espírito uma “angústia do cidadão antes da eleição”. Resolvida a custo, pela minha consciência, mas apesar de tudo resolvida.
Como tenho repetidamente sublinhado, voto sempre com a cabeça, e não com o coração. Voto sempre escolhendo o mal menor.

Estou certo de que se Manuel Alegre fosse eleito Presidente da República, face à cruel realidade da situação em que Portugal se encontra, na enorme dependência dos seus credores, ele não teria outro remédio senão rever e desdizer, a curto prazo, muito e muito do que andou e agora anda por aí a proclamar com muita prosápia, dita de “esquerda”. Iria ter de engolir muito sapo vivo. Iria rapidamente passar de “bestial a besta”, aos olhos, no juízo e no dizer do bando de “adolescentes de meia idade” que é o BE. Não teria outra alternativa, sob pena de Portugal ser sugado para um autêntico buraco negro de sub-desenvolvimento e de miséria.

Mas antes, mal se anunciasse a virtual hipótese de ser eleito Manuel Alegre, apoiado pelo BE com tamanho entusiasmo, os credores iriam fechar por completo a torneira do indispensável crédito. Por falta de confiança, pura e simplesmente. Ou, pelo menos, iriam lançar os juros dos empréstimos que concedessem, para níveis incomportáveis. Seria o sufoco completo, o aumento das taxas de juros, a inexistência de crédito interno disponível, mais desemprego, mais falências, a bancarrota. O recurso ao fundo europeu, que implica a intervenção do FMI, passaria a ser certo. A saída do Euro viria porventura a tornar-se inevitável.
Pela minha parte, talvez me fosse aguentando na trágica e muito tormentosa tempestade que por aí se levantaria. O mesmo todavia não aconteceria com muitos e muitos concidadãos que não hajam sido tão favorecidos quanto eu fui e sou, no relativo conforto da minha vida pessoal e profissional.

Tudo isto resultaria de uma eleição, para a qual o meu voto poderia contribuir se eu não tivesse em consideração o critério da escolha do mal menor.
E se, como sublinhei, sempre uso este critério, creio que ficará claro como terei de orientar o sentido do meu voto, apesar de tudo o que me desgosta, decepciona, e irrita, no candidato dele destinatário .Tenho para mim como certo que muitos eleitores irão usar o meu critério. Até mesmo muitos dos que, por mero e complexado atavismo com verniz de “esquerda”, se proclamam publicamente apoiantes e votantes de Manuel Alegre.

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