quarta-feira, agosto 11, 2010
CHAMAS, CINZAS E FOTOGRAFIAS ARTISTICAS
A meia largura da sua primeira página, podia ver-se no PUBLICO de anteontem, uma artística fotografia de umas espectaculares labaredas, tomada num dos trágicos incêndios que, às centenas, vão reduzindo a cinzas muitos hectares das nossas florestas, e à miséria muitos portugueses que conseguem (sobre)viver da agricultura e da silvicultura no interior do país.
O director do jornal deve estar muito satisfeito pelo carácter apelativo que assim ganhou a primeira página ; deve ter contribuido, quem sabe, para aquela edição do jornal se ter vendido mais. O reporter-artista-fotógrafo deve estar orgulhoso pelos elogios dos seus colegas ; talvez, quem sabe, possa vir a ganhar um prémio pela qualidade artístico-fotográfica da sua obra.
A meia largura da sua primeira página, podia ver-se no PUBLICO de anteontem, uma artística fotografia de umas espectaculares labaredas, tomada num dos trágicos incêndios que, às centenas, vão reduzindo a cinzas muitos hectares das nossas florestas, e à miséria muitos portugueses que conseguem (sobre)viver da agricultura e da silvicultura no interior do país.
O director do jornal deve estar muito satisfeito pelo carácter apelativo que assim ganhou a primeira página ; deve ter contribuido, quem sabe, para aquela edição do jornal se ter vendido mais. O reporter-artista-fotógrafo deve estar orgulhoso pelos elogios dos seus colegas ; talvez, quem sabe, possa vir a ganhar um prémio pela qualidade artístico-fotográfica da sua obra.
Tal como a água, o fogo sempre exerceu um fascínio na mente humana. Numa lareira ou num fogão de sala , pode ficar-se a contemplar o fogo durante algum tempo, meio absorto, sem nada mais olhar, sem nada mais fazer.
Fascina tambem o incendiário, real ou potencial. E muito, parece provado. Como parece provado que as obsessivas reportagens fotográficas e televisivas, sempre tendo as vermelhas chamas e as fascinantes labaredas como cenário de fundo, fazem aumentar o número de psicopatas que por via desse efeito de fascínio se transformam em potenciais incendiários.
Não, não estou a sugerir que a divulgação dessas imagens fascinantes devam ser objecto de censura. Agora, quem as publicar e divulgar terá de ficar ciente que parte da opinião pública está convicta de que essa publicação e essa divulgação representam, objectivamente, acções de cumplicidade moral com os incendiários criminosos, responsáveis directos por grande parte da catástrofe dos incêndios, e das mortes que às vezes causam nos seus heroicos combatentes.
Exercida essa cumplicidade, não venham depois comentários e editoriais, das TV´s e dos jornais, a derramar cínicas lágrimas de crocodilo e a perorar sentenças quanto à atribuição de responsabilidades de tais tragédias. Como diz um ditado popular francês : quem deita uns pingos de cidra nos biberões dos bébés não tem autoridade para clamar contra o alcoolismo.
Aqui há uns anos, creio que em 2005, houve algumas diligências no sentido dos diversos media fazerem entre si um pacto de auto-regulação, comprometendo-se todos eles a reduzir significativamente a obsessiva divulgação de imagens dos fogos florestais com labaredas como cenário de fundo. Terá dado em nada. Mandam mais os interesses pela busca de maiores tiragens dos jornais, ou por maiores shares de audiência das televisões.